quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O MEIO AMBIENTE E A ESPIRITUALIDADE NA FALA DO POVO XOKLENG/LAKLÃNÕ

Nosso objetivo é trazer a luz e mostrar ao publico oque estava por de traz da cortina do tempo a reciprocidade e o respeito da natureza que o povo Xokleng/Laklãnõ tem pelo meio ambiente e sua espiritualidade. Neste sentido é considerada como aspectos referenciais  desta sociedade pela  educação ambiental no seu entendimento.  
A seguir será apresentado sobre a espiritualidade e a relação com a natureza, recursos vitais coletados nos ambientes, a reciprocidade e a demanda por recursos naturais, propostas de cuidado e recuperação ambiental.

 

A Relação com a Natureza e a Espiritualidade  


Para os Xokleng/Laklãnõ, tudo na natureza o que possa demonstrar ou ter fundamento religioso é espiritual. A relação deste povo com a natureza é permeada por sentimentos de que tudo é sagrado.  Assim acreditam que os bichos têm espíritos por isso quando vão matar qualquer animal de caça para se alimentar, eles pedem permissão e perdão, explicando porque que está sendo morto, por necessidade de comer carne.
Da mesma forma para tirar mel de uma abelheira é pedido a permissão e perdão para a própria abelheira explicando para que ela está sendo tirado o mel. Por considerar que as arvores tem espíritos, a arvore não era derrubado, havia uma forma de manter ela de pé e por isso subia na arvore e furava diretamente no local a onde está a abelheira sem precisar derrubar a árvore.

 

O Kujá (Pajé)


No universo dos Xokleng/Laklãnõ, surge à figura do Kujá (Pajé), que é uma pessoa de destaque dentro da comunidade que além de se comunicar, como as demais pessoas de seu povo e com os entes naturais, estabelecendo assim uma relação ainda mais intensa, desenvolvendo assim uma capacidades de cura, enfrentando desafios e  predição do futuro por meio da ajuda e a participação direta destes entes naturais.
O Kujá (Pajé) desempenhava o papel de um líder espiritual ao estabelecer ou alargar um canal de comunicação e comunhão com a natureza, trazendo assim um  conforto espiritual e físico. O Kujá (Pajé), mais lembrado e mais respeitado até os dia de hoje entre os Xokleng/Laklãnõ é o Kámlẽn, ele viveu até as primeiras décadas do século XX. Quando em 1914 quando foi estabelecido o contato dos Xokleng/Laklãnõ com os não indígena, o Kámlẽn já vivia na atual Terra Indígena.
Esta conexão íntima com a natureza, havia entre vários outros tipos de Kujá, os que conversavam com os animais, como  Kámlẽn  e o  Kuvenh já conversava com o espírito da onça e o Nẽvo foi um grande Kujá, este conversava com todos os espírito quer seja de animais como da natureza e também traziam segundo suas crenças os espíritos da criança quando este morre. Isso quer dizer que o mesmo tinha outros forma  distintas de diálogo com a natureza e com outros espíritos. Os Kujá (Pajé) só não tinha contato com ente da natureza, mas também predizia o futuro.
Neste sentido no universo próprio criado pelos Xokleng/Laklãnõ os elementos da natureza são dotados de espírito e segundo suas crenças são seres passíveis de se comunicarem e de se relacionarem com os Xokleng/Laklãnõ, criando um clima de compartilhamento do espaço, do tempo e da vida cotidiana. Em sua espiritualidade eles estabelecem uma interação com o mundo criando uma realidade onde pessoas são formadas e formam a natureza, compondo um todo indissociável.

Conversar com a Natureza


Conversar com a natureza entre os Xokleng/Laklãnõ, não foi descrito apenas como algo restrito aos Kujá (Pajé), mas sim  eles  vivenciavam isto no passado e ainda vivem de acordo com estes valores. No passado distante quando viviam no mato tinham uma relação de afeto com a natureza, conversavam com ela para conseguirem o que precisavam e para se entender com ela, por essa razão não tinham medo das cobras e não precisavam estar matando-as, pois conversavam com elas para que não lhes picassem.
Neste sentido entre os Xokleng/Laklãnõ a habilidade de comunicação com os seres da natureza é comum a qualquer indivíduo deste povo em suas atividades do cotidiano como a caça e a agricultura.
A comunicação com a natureza entre os Xokleng/Laklãnõ é possível por que segundo suas crenças todos os elementos da natureza têm espírito, sendo que esta crença e costume ainda estão vivos entre os mesmos. Pois para eles este hábito faz parte do conhecimento popular desta sociedade.
Segundo os Xokleng/Laklãnõ, o ser da natureza, quer seja animais ou da própria natureza estabelecem uma teia espiritual com as pessoas. Assim, deve-se sempre respeitar aquele que está interligado espiritualmente com sua linhagem.
 Assim os seres espirituais da natureza levavam o nome de gyjun (espírito) e acima desses há um maior que comanda designado de Gyjun tõ gynhmõ nẽ (espirito que está acima) ou Ãggklẽnẽ (alguém acima de nós). Este ser maior foi relacionado com o nome de Jesus, adaptando as crenças cristãs a estas crenças tradicionais Xokleng/Laklãnõ.
Além da conversação direta com os seres da natureza, há também tipos de animais que  atribuíram  e  são determinados para diferentes tipos de  manifestações, como ronco do bugio ou de pássaros  que podem representar mudança de tempo ou a morte de alguém. De acordo com a crença do Xokleng/Laklãnõ há também dois tipos de passarinhos que podem comunicar sorte ou azar. Estes pássaros são considerados sagrados até os dias hoje e ele não pode ser morto.
Esta espiritualidade atualmente é valorizada e estimulada para que isso não venha se perder ao longo do tempo entre esta sociedade, restabelecendo assim um novo equilíbrio entre este povo por meio de um retorno aos costumes tradicionais de conexão com a natureza, permitindo que eles recriem sua identidade e cultura com base nos costumes ancestrais, apesar das transgressões e rupturas decorrentes da sociedade envolvente.
Pode se perceber que por meio da descrição ao longo deste texto à espiritualidade Xokleng/Laklãnõ, e conhecimento sobre a natureza, diferentemente do contexto dito “civilizatório” vigente, está diluído em estruturas culturais difusas como nas histórias já que a cultura desta sociedade  não têm uma base objetivada.  O que se pode perceber e o que demonstra um contexto com potencial para um convívio equilibrado deste povo com a natureza por possuir os valores culturais dos seus ancestrais relacionados ao respeito, evidenciado principalmente na forma de extração de recursos naturais de que necessitam  por meio de pedidos de permissão a natureza.
Estes cuidados em relação à natureza demonstrados por meio de um sentimento de afeto e de pedido de permissão de uso, podem ser compreendidos no contexto de sua realidade  tradicional demonstrando assim um extremo sentimento de respeito e de integração a natureza que, no caso em questão, sustenta um sentimento de pertencimento ao povo Xokleng/Laklãnõ com a natureza como um todo.
No entanto pode se perceber na descrição apresentada sobre a espiritualidade e a relação com a natureza deste povo, um considerável potencial para fundamentar programas de educação ambiental ao atrelar sentimentos de respeito à ancestralidade, ao mágico e a personificação da natureza, podendo assim aproximar os Xokleng/Laklãnõ a tal ponto dos ambientes que em determinados momentos a separação entre ser pessoa e ser natureza se torna um dualismo impraticável.  Este contexto pode gerar um sentimento de identidade com a natureza, podendo se consolidar como um fator essencial em processos de desenvolvimento deste povo no tocante ao ambiente, destacando-se neste trabalho atividades de Educação Ambiental.

Recursos Coletado no Ambiente


Outro tema de destaque são os recursos vitais coletados nos ambiente, é uma categoria na qual os conhecimentos do povo estão relacionados aos recursos naturais utilizados como parte da cultura do povo Xokleng/Laklãnõ.
Entre os recursos vitais estão relacionados à alimentação, principalmente os ligados a caça.  Pois no passado havia muitos animais disponíveis para caça. A carne de animais nativos era como alimento muito importante, pois toda a alimentação era somente a base de carne. Atualmente houve uma drástica diminuição dos animais que era caça como de costume do povo Xokleng/Laklãnõ, isso ocorreu devido à diminuição das áreas de florestas. Isso causou uma   mudança drástica na vida como nos hábitos alimentares desta sociedade. O povo que era no passado migrante, atualmente está confinado em um pequeno espaço de um pouco mais de 14 mil hectares de terras. 
Para os Xokleng/Laklãnõ as ervas medicinais são de fundamental importância para a preservação cultural com a natureza, pois as ervas medicinais oferecem um tratamento natural a base das ervas.
Embora os conhecimentos dos Xokleng/Laklãnõ relacionados à sua interação com o meio ambiente tenham sofrido considerável perda após o contato com as sociedades não indígenas, mas pode-se perceber que o uso de recursos naturais está ainda presentes como parte da cultura e da memória coletiva desta sociedade.


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