Nosso objetivo é
trazer a luz e mostrar ao publico oque estava por de traz da cortina do tempo a
reciprocidade e o respeito da natureza que o povo Xokleng/Laklãnõ tem pelo meio
ambiente e sua espiritualidade. Neste sentido é considerada como aspectos
referenciais desta sociedade pela educação ambiental no seu entendimento.
A seguir será
apresentado sobre a espiritualidade e a relação com a natureza, recursos vitais
coletados nos ambientes, a reciprocidade e a demanda por recursos naturais,
propostas de cuidado e recuperação ambiental.
A Relação com a Natureza e a Espiritualidade
Para os Xokleng/Laklãnõ, tudo na natureza
o que possa demonstrar ou ter fundamento religioso é espiritual. A relação
deste povo com a natureza é permeada por sentimentos de que tudo é sagrado.
Assim acreditam que os bichos têm espíritos
por isso quando vão matar qualquer animal de caça para se alimentar, eles pedem
permissão e perdão, explicando porque que está sendo morto, por necessidade de
comer carne.
Da mesma forma para
tirar mel de uma abelheira é pedido a permissão e perdão para a própria
abelheira explicando para que ela está sendo tirado o mel. Por considerar que
as arvores tem espíritos, a arvore não era derrubado, havia uma forma de manter
ela de pé e por isso subia na arvore e furava diretamente no local a onde está
a abelheira sem precisar derrubar a árvore.
O Kujá (Pajé)
No universo dos
Xokleng/Laklãnõ, surge à figura do Kujá (Pajé), que é uma pessoa de destaque
dentro da comunidade que além de se comunicar, como as demais pessoas de seu
povo e com os entes naturais, estabelecendo assim uma relação ainda mais
intensa, desenvolvendo assim uma capacidades de cura, enfrentando desafios
e predição do futuro por meio da ajuda e
a participação direta destes entes naturais.
O Kujá (Pajé)
desempenhava o papel de um líder espiritual ao estabelecer ou alargar um canal
de comunicação e comunhão com a natureza, trazendo assim um conforto espiritual e físico. O Kujá (Pajé),
mais lembrado e mais respeitado até os dia de hoje entre os Xokleng/Laklãnõ é o
Kámlẽn, ele viveu até as primeiras décadas do século XX. Quando em 1914 quando
foi estabelecido o contato dos Xokleng/Laklãnõ com os não indígena, o Kámlẽn já
vivia na atual Terra Indígena.
Esta conexão
íntima com a natureza, havia entre vários outros tipos de Kujá, os que
conversavam com os animais, como Kámlẽn e o Kuvenh já conversava com o espírito da onça e
o Nẽvo foi um grande Kujá, este conversava com todos os espírito quer seja de
animais como da natureza e também traziam segundo suas crenças os espíritos da
criança quando este morre. Isso quer dizer que o mesmo tinha outros forma distintas de diálogo com a natureza e com outros
espíritos. Os Kujá (Pajé) só não tinha contato com ente da natureza, mas também
predizia o futuro.
Neste sentido
no universo próprio criado pelos Xokleng/Laklãnõ os elementos da natureza são
dotados de espírito e segundo suas crenças são seres passíveis de se
comunicarem e de se relacionarem com os Xokleng/Laklãnõ, criando um clima de
compartilhamento do espaço, do tempo e da vida cotidiana. Em sua
espiritualidade eles estabelecem uma interação com o mundo criando uma
realidade onde pessoas são formadas e formam a natureza, compondo um todo
indissociável.
Conversar com a Natureza
Conversar com a
natureza entre os Xokleng/Laklãnõ, não foi descrito apenas como algo restrito
aos Kujá (Pajé), mas sim eles vivenciavam isto no passado e ainda vivem de
acordo com estes valores. No passado distante quando viviam no mato tinham uma
relação de afeto com a natureza, conversavam com ela para conseguirem o que
precisavam e para se entender com ela, por essa razão não tinham medo das
cobras e não precisavam estar matando-as, pois conversavam com elas para que
não lhes picassem.
Neste sentido
entre os Xokleng/Laklãnõ a habilidade de comunicação com os seres da natureza é
comum a qualquer indivíduo deste povo em suas atividades do cotidiano como a
caça e a agricultura.
A comunicação
com a natureza entre os Xokleng/Laklãnõ é possível por que segundo suas crenças
todos os elementos da natureza têm espírito, sendo que esta crença e costume
ainda estão vivos entre os mesmos. Pois para eles este hábito faz parte do
conhecimento popular desta sociedade.
Segundo os
Xokleng/Laklãnõ, o ser da natureza, quer seja animais ou da própria natureza estabelecem
uma teia espiritual com as pessoas. Assim, deve-se sempre respeitar aquele que
está interligado espiritualmente com sua linhagem.
Assim os seres espirituais da natureza levavam
o nome de gyjun (espírito) e acima desses há um maior que comanda designado
de Gyjun
tõ gynhmõ nẽ (espirito que está acima) ou Ãggklẽnẽ (alguém acima de
nós). Este ser maior foi relacionado
com o nome de Jesus, adaptando as crenças cristãs a estas crenças tradicionais
Xokleng/Laklãnõ.
Além da
conversação direta com os seres da natureza, há também tipos de animais que atribuíram e são determinados
para diferentes tipos de manifestações,
como ronco do bugio ou de pássaros que
podem representar mudança de tempo ou a morte de alguém. De acordo com a crença
do Xokleng/Laklãnõ há também dois tipos de passarinhos que podem comunicar
sorte ou azar. Estes pássaros são considerados sagrados até os dias hoje e ele
não pode ser morto.
Esta
espiritualidade atualmente é valorizada e estimulada para que isso não venha se
perder ao longo do tempo entre esta sociedade, restabelecendo assim um novo
equilíbrio entre este povo por meio de um retorno aos costumes tradicionais de
conexão com a natureza, permitindo que eles recriem sua identidade e cultura
com base nos costumes ancestrais, apesar das transgressões e rupturas
decorrentes da sociedade envolvente.
Pode se
perceber que por meio da descrição ao longo deste texto à espiritualidade
Xokleng/Laklãnõ, e conhecimento sobre a natureza, diferentemente do contexto dito
“civilizatório” vigente, está diluído em estruturas culturais difusas como nas
histórias já que a cultura desta sociedade
não têm uma base objetivada. O
que se pode perceber e o que demonstra um contexto com potencial para um
convívio equilibrado deste povo com a natureza por possuir os valores culturais
dos seus ancestrais relacionados ao respeito, evidenciado principalmente na
forma de extração de recursos naturais de que necessitam por meio de pedidos de permissão a natureza.
Estes cuidados
em relação à natureza demonstrados por meio de um sentimento de afeto e de
pedido de permissão de uso, podem ser compreendidos no contexto de sua
realidade tradicional demonstrando assim
um extremo sentimento de respeito e de integração a natureza que, no caso em
questão, sustenta um sentimento de pertencimento ao povo Xokleng/Laklãnõ com a
natureza como um todo.
No entanto pode
se perceber na descrição apresentada sobre a espiritualidade e a relação com a
natureza deste povo, um considerável potencial para fundamentar programas de educação
ambiental ao atrelar sentimentos de respeito à ancestralidade, ao mágico e a
personificação da natureza, podendo assim aproximar os Xokleng/Laklãnõ a tal
ponto dos ambientes que em determinados momentos a separação entre ser pessoa e
ser natureza se torna um dualismo impraticável.
Este contexto pode gerar um sentimento de identidade com a natureza,
podendo se consolidar como um fator essencial em processos de desenvolvimento
deste povo no tocante ao ambiente, destacando-se neste trabalho atividades de
Educação Ambiental.
Recursos Coletado no Ambiente
Outro tema de
destaque são os recursos vitais coletados nos ambiente, é uma categoria na qual
os conhecimentos do povo estão relacionados aos recursos naturais utilizados
como parte da cultura do povo Xokleng/Laklãnõ.
Entre os
recursos vitais estão relacionados à alimentação, principalmente os ligados a
caça. Pois no passado havia muitos
animais disponíveis para caça. A carne de animais nativos era como alimento
muito importante, pois toda a alimentação era somente a base de carne. Atualmente
houve uma drástica diminuição dos animais que era caça como de costume do povo
Xokleng/Laklãnõ, isso ocorreu devido à diminuição das áreas de florestas. Isso causou
uma mudança drástica na vida como nos hábitos
alimentares desta sociedade. O povo que era no passado migrante, atualmente
está confinado em um pequeno espaço de um pouco mais de 14 mil hectares de terras.
Para os
Xokleng/Laklãnõ as ervas medicinais são de fundamental importância para a
preservação cultural com a natureza, pois as ervas medicinais oferecem um
tratamento natural a base das ervas.
Embora os
conhecimentos dos Xokleng/Laklãnõ relacionados à sua interação com o meio
ambiente tenham sofrido considerável perda após o contato com as sociedades não
indígenas, mas pode-se perceber que o uso de recursos naturais está ainda
presentes como parte da cultura e da memória coletiva desta sociedade.
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