quarta-feira, 22 de outubro de 2014

RESULTADO PRELIMINAR SOBRE MARCA DE GÊNERO EM XOKLENG/LAKLÃNÕ

Os estudos desenvolvidos sobre a gramática da língua Xokleng/Laklãnõ até aqui, tem seguido uma orientação linguística antropológica, tendo a experiência cultural do povo Xokleng/Laklãnõ como referência para a interpretação das noções codificadas pela língua. Assim privilegiamos o estudo da gramática como conhecimento moldado no modo como os Xokleng/Laklãnõ veem o mundo e como nele interagem uns com os outros e com a natureza em que vivem e de onde tiram o seu sustento.

Marcas de Gênero

A língua Xokleng/Laklãnõ expressa uma distinção de gênero biológico – ‘macho’ versus ‘fêmea’ – por meio de diferentes estratégias:
a).  Uma terceira pessoa singular feminina ‘zi’ e de uma terceira pessoa ‘ta, ti’ no singular masculina, distinção que se neutraliza no plural, em que uma mesma forma pode referir-se tanto a vários seres masculinos, femininos ou seres de ambos os sexos representados pela partícula ‘óg’;
b). Um morfema de terceira pessoa feminina ‘zi’ seguindo todo sintagma nominal que tem como referente um ser do gênero feminino;
c). Distinção lexical dos gêneros masculino ‘kónhgág’ macho e feminino ‘’ fêmea; presença de termos de relações de parentesco que contrastam o que é do macho do que é da fêmea, ou o que se relaciona a um ou a outro. Trata-se, portanto de gênero puramente com bases biológicas. Observe  a seguir.

A formazi seguindo nomes

O Xokleng/Laklãnõ distingue nomes de pessoas do sexo masculino de nomes de pessoas do sexo feminino. Na cultura, os homens não podem receber nomes femininos, nem as mulheres nomes masculinos. Veja na lista nomes de pessoas dos dois sexos:

Nome Masculino
Nome Feminino
Nome Masculino
Nome Feminino
Tukun
Ãmẽdo zi
Dil
Van zi
Vãjẽky
Txulunh zi
Kóvi
Tádo zi


A marca de gênero nos nomes

A Marca de Gênero em Xokleng/Laklãnõ é expressa por meio de concordância nos nomes. Todo sintagma nominal que tem como referente seres humanos do sexo feminino recebe uma marca de gênero, já quando o referente a masculino ou macho não leva marca de gênero. Observe nos exemplos que se tratando de um nome de pessoa do sexo feminino, assim recebe a marca ‘zi’, uma marca que se gramaticalizou como concordância nominal de gênero: Veja exemplo
Van zi kutã mũ’ → a Van caiu.


Em Xokleng/Laklãnõ no que diz respeito aos animais, nomes de animais que figuram como atributos em construções genitivas[1] mediadoras, se do sexo feminino, ou se fêmeas são modificados pelo nome ‘fêmea’ e se do sexo masculino são marcados pelo nome kónhgág  ‘macho’. Veja os exemplos:
glun   tõ      tá.
 gato  gen   fêmea  → gato fêmea.

kabe      tõ     kónhgág
veado   gen     macho       → veado macho

Já em função argumental – sujeito, objeto direto, agente, complemento de posposição, recebem, além dos termos classificatórios de gênero – a macho ou fêmea - , os sufixos de concordância de gênero: Veja no exemplo

glun    tõ               zi      vũ     goj     ki     kutã   mũ
gato    gen   fêmea  3ªpsf   MS   água  POSP  cair   perf. →  gato fêmea ela caiu na água.


O Xokleng/Laklãnõ é uma língua que marca gênero biológico em todo nome que tem como referente um ser dotado de sexo. Desenvolveu um sistema de concordância que marca todo nome em função argumental. Sem essa concordância enunciada em Xokleng/Laklãnõ são considerados agramaticais. O sistema de concordância é aplicado mesmo a nomes exclusivamente femininos, o que aponta para o seu alto grau de coerência gramatical. Busquei apresentar, com exemplos simples, mas um panorama fundamental ou básico da marca de gênero da língua Xokleng/Laklãnõ, creio que os dados apresentados mostram a pesquisa  que está sendo desenvolvido nesta língua. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo da apresentação é demonstrar ao publico em geral, o potencial e da  importância de investir na formação de pesquisadores indígenas e falantes de sua línguas maternas para serem pesquisadores de suas próprias histórias e de suas línguas maternas, auxiliando assim os professores indígenas a sistematização de suas histórias e as línguas heranças deixados pelos seus ancestrais e assim guardar num acervo seguro para evitar sua perda total, pois sabemos que o próprio índio estudando as histórias e a língua do seu  povo, terão o máximo de cuidado e pesquisar com sentimento e sensibilidade diferente de um pesquisador não indígenas.  Atualmente é inédito no Brasil ter pesquisador índio estudando sua própria história e suas línguas maternas.
Por outro pensei de compartilha uma pequena partícula da pesquisa que estou desenvolvendo com a língua Xokleng/Laklãnõ, o mesmo se trata de uma língua Jê, essa apresentação poderá ser muito útil para o conhecimento de pesquisadores que trabalham com outras línguas minoritárias dessa família.   
Neste sentido espero que isso possa contribuir para despertar maior interesse sobre a importância das línguas indígenas minoritárias brasileiras.






[1] São construções que têm por núcleo um nominal que é possuído por um outro nominal (incluindo-se os     pronominais). Semanticamente, o nominal possuído pertence ao possuidor, faz parte ou é uma extensão dele.

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