Os estudos
desenvolvidos sobre a gramática da língua Xokleng/Laklãnõ até aqui, tem seguido
uma orientação linguística antropológica, tendo a experiência cultural do povo Xokleng/Laklãnõ
como referência para a interpretação das noções codificadas pela língua. Assim
privilegiamos o estudo da gramática como conhecimento moldado no modo como os Xokleng/Laklãnõ
veem o mundo e como nele interagem uns com os outros e com a natureza em que
vivem e de onde tiram o seu sustento.
Marcas
de Gênero
A língua Xokleng/Laklãnõ expressa uma
distinção de gênero biológico – ‘macho’ versus ‘fêmea’ – por meio de diferentes
estratégias:
a). Uma terceira pessoa singular feminina ‘zi’ e de uma terceira pessoa ‘ta, ti’ no singular masculina, distinção que se neutraliza no plural,
em que uma mesma forma pode referir-se tanto a vários seres masculinos,
femininos ou seres de ambos os sexos representados pela partícula ‘óg’;
b).
Um morfema de terceira pessoa feminina ‘zi’
seguindo todo sintagma nominal que tem como referente um ser do gênero
feminino;
c).
Distinção lexical dos gêneros masculino ‘kónhgág’
macho e feminino ‘tá’ fêmea;
presença de termos de relações de parentesco que contrastam o que é do macho do
que é da fêmea, ou o que se relaciona a um ou a outro. Trata-se, portanto de
gênero puramente com bases biológicas. Observe a seguir.
A
forma ‘zi’ seguindo nomes
O Xokleng/Laklãnõ distingue nomes de
pessoas do sexo masculino de nomes de pessoas do sexo feminino. Na cultura, os
homens não podem receber nomes femininos, nem as mulheres nomes masculinos.
Veja na lista nomes de pessoas dos dois sexos:
Nome Masculino
|
Nome Feminino
|
Nome Masculino
|
Nome Feminino
|
Tukun
|
Ãmẽdo
zi
|
Dil
|
Van
zi
|
Vãjẽky
|
Txulunh
zi
|
Kóvi
|
Tádo
zi
|
A marca de gênero nos nomes
A Marca de Gênero em Xokleng/Laklãnõ é
expressa por meio de concordância nos nomes. Todo sintagma nominal que tem como
referente seres humanos do sexo feminino recebe uma marca de gênero, já quando
o referente a masculino ou macho não leva marca de gênero. Observe nos exemplos
que se tratando de um nome de pessoa do sexo feminino, assim recebe a marca ‘zi’, uma marca que se gramaticalizou
como concordância nominal de gênero: Veja exemplo
Van zi
kutã mũ’ → a Van caiu.
Em Xokleng/Laklãnõ no que diz respeito
aos animais, nomes de animais que figuram como atributos em construções
genitivas[1]
mediadoras, se do sexo feminino, ou se fêmeas são modificados pelo nome tá
‘fêmea’ e se do sexo masculino são marcados pelo nome kónhgág ‘macho’.
Veja os exemplos:
glun tõ tá.
gato gen
fêmea → gato fêmea.
kabe
tõ kónhgág
veado
gen macho → veado macho
Já em função argumental – sujeito,
objeto direto, agente, complemento de posposição, recebem, além dos termos
classificatórios de gênero – a macho ou fêmea - , os sufixos de concordância de
gênero: Veja no exemplo
glun tõ tá zi
vũ goj ki
kutã mũ
gato gen fêmea
3ªpsf MS água
POSP cair perf. → gato fêmea ela caiu na água.
O Xokleng/Laklãnõ é uma língua que marca
gênero biológico em todo nome que tem como referente um ser dotado de sexo.
Desenvolveu um sistema de concordância que marca todo nome em função
argumental. Sem essa concordância enunciada em Xokleng/Laklãnõ são considerados
agramaticais. O sistema de concordância é aplicado mesmo a nomes exclusivamente
femininos, o que aponta para o seu alto grau de coerência gramatical. Busquei
apresentar, com exemplos simples, mas um panorama fundamental ou básico da
marca de gênero da língua Xokleng/Laklãnõ, creio que os dados apresentados
mostram a pesquisa que está sendo desenvolvido
nesta língua.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo da
apresentação é demonstrar ao publico em geral, o potencial e da importância de investir na formação de
pesquisadores indígenas e falantes de sua línguas maternas para serem
pesquisadores de suas próprias histórias e de suas línguas maternas, auxiliando
assim os professores indígenas a sistematização de suas histórias e as línguas
heranças deixados pelos seus ancestrais e assim guardar num acervo seguro para
evitar sua perda total, pois sabemos que o próprio índio estudando as histórias
e a língua do seu povo, terão o máximo
de cuidado e pesquisar com sentimento e sensibilidade diferente de um
pesquisador não indígenas. Atualmente é inédito
no Brasil ter pesquisador índio estudando sua própria história e suas línguas
maternas.
Por outro pensei de
compartilha uma pequena partícula da pesquisa que estou desenvolvendo com a
língua Xokleng/Laklãnõ, o mesmo se trata de uma língua Jê, essa apresentação poderá ser muito útil para o conhecimento de
pesquisadores que trabalham com outras línguas minoritárias dessa família.
Neste sentido espero
que isso possa contribuir para despertar maior interesse sobre a importância
das línguas indígenas minoritárias brasileiras.
[1] São construções
que têm por núcleo um nominal que é possuído por um outro nominal (incluindo-se
os pronominais). Semanticamente, o
nominal possuído pertence ao possuidor, faz parte ou é uma extensão dele.
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